Nome por trás de luminárias que conquistaram o mundo, Ingo Maurer, o multipremiado designer alemão, é também chamado de “Poeta da Luz”. Com o dom de instigar a imaginação e promover diferentes sensações, ele gravou seu nome na história e suas criações atingem o status de obras de arte, com lugar de destaque em museus da contemporaneidade.
Texto Kellyn Boniatti
Porta da luz - Designer Alemão
Conhecido como o “Poeta da Luz”, Ingo Maurer conquistou o posto de um dos mais expressivos lighting designers da história. Nascido em 1932 na Ilha de Reichenau, ao sul da Alemanha, ele estudou tipografia e design gráfico antes de se aprofundar no universo criativo em uma viagem de três anos aos Estados Unidos.
Em solo americano, o jovem teve seu primeiro contato com o segmento, desenvolvendo projetos independentes para empresas internacionais entre Nova York e São Francisco. Estimulado pelas descobertas e de volta à terra natal, em 1966 desenhou seu primeiro item de iluminação, já à frente do recém-inaugurado estúdio Design M, hoje conhecido como Ingo Maurer GmbH. Batizada de Bulb, a peça que consistia em uma lâmpada dentro de uma lâmpada marcou sua estreia no segmento, sendo a primogênita de uma série de luminárias que, posteriormente, conquistariam o mundo.
A luminária de mesa com baixa voltagem foi projetada para disseminar uma luz fraca, ideal para um ambiente intimista. Simples, porém inovadora, a peça caiu nas graças do público e conquistou lugar de destaque também no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), onde ainda hoje pode ser admirada junto a outras criações do multipremiado designer. No Brasil, o acervo completo de suas obras está no Estúdio Brasil Ingo Maurer, inaugurado em 2016 junto à FAS Iluminação, em São Paulo (SP). Além da icônica Bulb, por lá é possível admirar a beleza irretocável de outras tantas lumi – nárias, como as MaMoNouchies, produzi – das em papel de arroz plissado em uma collab com o estilista japonês Issey Miyake, ou mesmo os spots da linha Ya Ya Ho.
Suas luminárias instigam a imaginação e são capazes de despertar diferentes emoções a partir de um simples facho de luz. Conforme ele falou ao New York Times, “as pessoas subestimam o poder da iluminação e o que ela pode fazer”, em referência às diferentes sensações que os tipos de luz podem causar no indivíduo, podendo deixá-lo mais relaxado ou mesmo sugerir certa tensão ou cansaço. As criações excêntricas do alemão beiram a arte, por isso a fama de poeta não poderia lhe caber melhor.
No decorrer da carreira, assinou centenas de peças, das mais delicadas àquelas que revelam contemporaneidade ao extremo, com estruturas aparentes e materiais modernos, destacando também seu viés tecnológico. A paixão pela luz, conforme ele contou na entrevista ao jornal nova-iorquino, surgiu ainda na infância, nos passeios que realizava com o pai a um lago na fronteira entre Alemanha, Áustria e Suíça. Lá, ainda pequeno observava o reflexo da luz sobre a água, o que acabou se traduzindo em suas criações, décadas mais tarde.
Premiado mundo afora, Maurer foi nomeado em 2005 Designer Industrial Real pela Real Sociedade das Artes de Londres e Doutor Honoris Causa pelo Real Colégio das Artes na capital inglesa. Entre as criações mais emblemáticas estão ainda peças como a Zettel’z 5, de 1997, em aço e vidro com pegadores para papel japonês que difundem a luz; o belíssimo Birdie´s Ring, de 2013, composto por 12 lâmpadas envoltas por penas que simulam o voo de pássaros; a Flatterby, uma luminária pen – dente de edição limitada – são apenas 200 unidades disponíveis –, cercada por 10 borboletas feitas à mão; além da irreverente Porca Miséria, concebida em 1994 entre talheres e pedaços de pratos e bules brancos que geram a sensação de que a cena foi paralisada no exato momento em que as louças foram jogadas ao alto. O designer alemão faleceu em 21 de outubro de 2019, aos 87 anos, porém deixa seu nome eternizado no cenário criativo a partir de criações que inegavelmente podem ser consideradas obras de arte da contemporaneidade.